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terça-feira, 28 de outubro de 2014

OTAN DEIXA O AFEGANISTÃO CRIANDO UM VÁCUO DO PODER

http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_10_28/Retirada-de-tropas-do-Afeganistao-depressa-demais-e-cedo-demais-8814/


Ontem, 15:49

Retirada de tropas do Afeganistão: depressa demais e cedo demais

Afeganistão, tropas, taliban, otan

“Tenho a sensação de que saímos depressa demais e cedo demais”. Foi assim que, numa entrevista ao jornal The Times, o capitão britânico Doug Beattie comentou a modesta cerimônia de encerramento das bases militares dos Estados Unidos e do Reino Unido na província afegã de Helmand, que aconteceu no domingo, 26 de outubro.

Com pensamentos semelhantes, um quarto de século atrás, em agosto de 1988, junto com os últimos soldados soviéticos o correspondente da Voz da Rússia Vadim Fersovich deixava Lashkar Gah, a capital desta província:
"Quando eu voltei a Helmand em 2011, muito tinha mudado. No lugar das poucas tropas soviéticas estava uma armada multilíngue – além do Reino Unido e dos Estados Unidos aqui estavam combatendo soldados de Canadá, Dinamarca, Estônia, Geórgia e Holanda. Na operação militar “Moshtarak”, lançada em fevereiro de 2010 nas proximidades de Lashkar Gah, a maior na história da última guerra no Afeganistão, participaram 15 mil soldados norte-americanos, afegãos e britânicos. Durante dois anos, nos vastos campos de papoilas de ópio que substituíram o trigo e algodão habituais aqui durante a “ocupação soviética”, eram travados combates.
Parecia que desta vez havia forças suficientes: a gigantesca base militar Camp Bastion e a maior base dos fuzileiros navais norte-americanos Camp Leatherneck davam abrigo a 40 mil soldados e forneciam tudo o necessário para a vitória.
Mas em 26 de outubro nelas foram baixadas as bandeiras da OTAN, dos EUA e do Reino Unido. E sobre este evento não houve nenhumas declarações de governos ocidentais, não houve conferências de imprensa nem manchetes nas primeiras páginas dos jornais.
Tão pouco houve um exército de jornalistas ocidentais, como o que nos acompanhou até as fronteiras da URSS. Houve apenas uma curta declaração: a responsabilidade pela segurança na província é transferida ao 215º corpo do Exército afegão. A propósito, nos anos 80, nas partes da província controladas pelo governo estavam apenas unidades da guarda fronteiriça e tropas internas do Afeganistão.
A situação melhorou radicalmente? Segundo relatórios oficiais, a situação aqui continua tão perigosa que até mesmo o momento exato do encerramento das bases foi mantido em segredo por razões de segurança. Agora, estão chegando relatos de que os talibãs estão ganhando terreno às forças de segurança afegãs nas mesmas áreas que eram focos de resistência nos anos 1980: Musa Qala, Nauzad, Sangin, Kajaki.
Os mujahidin que lutaram outrora contra as tropas soviéticas e ocuparam agora altos cargos na província até hoje não conseguem explicar porquê e para quê os afegãos continuam lutando uns contra os outros. No entanto, o comandante das forças norte-americanas no Afeganistão, o general John F. Campbell, está confiante de que o exército afegão conseguirá devolver os territórios capturados pelos talibãs. Mas já agora, vendo diante de si o exemplo do Iraque, vários generais norte-americanos acreditam que o governo deveria reconsiderar o prazo da retirada.
Até o final do ano no Afeganistão ficarão apenas 12.500 soldados estrangeiros, incluindo 9.800 norte-americanos. Na situação atual isso é muito pouco. Vale lembrar que em outubro de 1988, as tropas soviéticas foram obrigadas a retornar ao norte de Helmand para evacuar as unidades do exército afegão bloqueadas lá pelos mujahidin. Agora a história se está repetindo.
Por quê lutaram? Nas palavras do ministro da Defesa do Reino Unido Michael Fallon, os soldados de seu país, que deram 453 vidas no Afeganistão, “criaram condições de segurança o que permitiu realizar a primeira transferência de poder democrática na história do país, e não deram chances de torná-lo uma plataforma de lançamento para atentados terroristas no Reino Unido”. Soa duvidoso. Até mesmo o ex-enviado da ONU ao Afeganistão, Kai Eide, diz que a retirada prematura das tropas norte-americanas do Afeganistão exporia a um sério perigo não só este país, mas também os países do Ocidente.
Não só a retirada de tropas é perigosa. Só em Helmand o Exército dos EUA deixou a seus colegas afegãos armas e equipamentos militares no valor de cerca de 230 milhões de dólares. O comandante do grupo de fuzileiros navais em Camp Leatherneck, o coronel Doug Patterson, disse sobre o assunto à agência Reuters: “Nós demos-lhes as chaves”. No Iraque, alguém já usou estas “chaves”. Embora não aqueles em quem eram depositadas tantas esperanças".


FONTE

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