Agora os governantes e outros poderosos sabem que a net é perigosa para falar a verdade, informações que não saem na grande midia e com isso a net pode ser mais vigiada.
A Wikileaks vai reforçar a liberdade de expressão ou tornar a Internet mais policiada?
Julian Assange, um ex-hacker australiano, tornou-se, aos 39 anos, o rosto de uma organização que faz tremer governos e multinacionais. Para alguns, a WikiLeaks é uma ameaça à civilização ocidental. Para outros, ajuda a evitar que esta se destrua a si própria.
Quando se escrever a história do século XXI, é bem possível que o dia 28 de Novembro de 2010 venha a ser considerado uma data crucial. Foi nesse dia que cinco das mais prestigiadas instituições da imprensa internacional os diários TheNew York Times, TheGuardian, Le Monde e El País e a revista alemã Der Spiegel começaram a divulgar, em simultâneo, uma parte dos mais de 250 mil telegramas diplomáticos dos Estados Unidos que a WikiLeaks lhes forneceu.
A diplomacia, reconhecem simpatizantes e adversários da organização dirigida por Julian Assange, nunca mais será a mesma. E o jornalismo provavelmente também não. Mas se esta gigantesca fuga de informação tem potencial para transformar o mundo, não é, no essencial, por nenhuma destas razões, mas pelas consequências que pode vir a ter no destino da Internet. Um blogger americano especializado em política internacional, Tom Mendelsohn, coloca a questão de forma sugestiva: Podemos estar a assistir ao início da Grande Guerra cibernética e Franz Ferdinand [o arquiduque Francisco Fernando] acabou de ser assassinado.
Os optimistas, evocando casos como os Pentagon Papers ou o Watergate, acham que a actividade da WikiLeaks acabará por reforçar a liberdade de imprensa e, mais genericamente, a liberdade de expressão. Em 1971, um analista de informação do Pentágono, Daniel Ellsberg, hoje fervoroso apoiante de Assange, fotocopiou e passou ao New York Times um documento secreto de 14 mil páginas (os famosos Pentagon Papers) que expunha a política norte-americana no Vietname. O governo de Nixon conseguiu um mandado judicial para impedir a sua publicação, mas o Supremo Tribunal de Justiça, apoiando-se na Primeira Emenda, decretou que a ordem era inconstitucional. Um dos juízes, Hugo Black, argumentou que os fundadores da nação tinham considerado que a segurança era mais eficazmente protegida pelo escrutínio do que pelo segredo. No ano seguinte rebentava o escândalo do Watergate, que começaria por uma manchete do Washington Post, dando conta de uma tentativa de colocar escutas na sede do Partido Democrata, e acabaria por levar à demissão de Richard Nixon.
José Vítor Malheiros, que integrou a direcção do PÚBLICO e é colunista do jornal, acha que o Watergate tem um perfil radicalmente diferente e que só faz sentido comparar a divulgação dos telegramas ao episódio dos Pentagon Papers. São casos muito semelhantes, mas a pessoa que agora faz de Ellsberg não é Assange, e sim Bradley Manning [o jovem soldado que terá passado a informação à WikiLeaks quando estava mobilizado no Iraque e que hoje se encontra detido, arriscando-se a uma pena de prisão de 50 anos], nota Malheiros. São ambos analistas de informação, ambos lêem documentos que acham que deviam ser do domínio público e ambos decidem que o dever de divulgar aquela informação se sobrepõe ao compromisso de a manter secreta.
Joaquim Fidalgo, que também passou pela direcção do PÚBLICO e é professor de Jornalismo na Universidade do Minho, concorda com Malheiros que a comparação com o Watergate é impertinente. A fonte [o célebre Garganta Funda, que só em 2005 se veio a saber que era o director associado do FBI, Mark Felt] era um insider, e não um intermediário, como Assange diz Fidalgo, acrescentando que, no entanto, a diferença essencial é que Felt se limitou a dar umas dicas, no estilo sigam o dinheiro!, e os repórteres, a partir daí, bateram às portas e investigaram. Ao contrário do que aconteceu agora, com os jornalistas a fazer mais o papel de intermediários e contextualizadores, o Watergate, sublinha Fidalgo, um caso típico de jornalismo de investigação.
Sempre atento:
Observer!
Nenhum comentário:
Postar um comentário