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sábado, 8 de janeiro de 2011

China intervém na Europa

Edu Dallarte

Depois da Espanha, China diz que comprará papéis da dívida da Grécia e Portugal


DA FRANCE PRESSE, EM PEQUIM
DE SÃO PAULO


A China expressou vontade de comprar mais papéis da dívida pública espanhola, durante visita a Madri do vice-primeiro-ministro Li Keqiang, prometendo apoio semelhante a Portugal e Grécia.

Na segunda-feira (3) -- dia em que Li Keqiang chegou ao país europeu -- o jornal espanhol "El País" publicou um editorial assinado pelo chinês no qual afirmava que as autoridades chinesas têm fé no sistema financeiro espanhol e que seu país continuará a participar de leilões de dívida da nação europeia.

A iniciativa, segundo analistas, reflete interesses estratégicos e econômicos de Pequim mas que, na realidade, não representa de nenhuma maneira uma solução para a crise das dívidas soberanas na Europa.

Keqiang afirmou que seu país "apoia as medidas adotadas pela Espanha de reajuste econômico e financeiro", o que se traduz pela compra de sua dívida pela China.

A visita do dirigente chinês à Espanha acontece depois de semanas de temores do mercado sobre a capacidade da Espanha fazer frente à própria dívida e sobre um eventual plano de resgate como o da Grécia e Irlanda para cobrir seus deficts.

Madri e Pequim já assinaram anteriormente 15 acordos institucionais e comerciais, além de uma cooperação na América Latina, através do BBVA e o Banco de Desenvolvimento da China.

A China já era um importante comprador da dívida pública espanhola e não reduziu suas aquisições. "Compraremos mais [obrigações espanholas], dependendo das condições de mercado", assegurou Li, citado pela agência Xinhua.

Pequim já havia prometido ajudar a Grécia e Portugal, também pela compra de obrigações de Estado -- uma decisão que, segundo os técnicos, poderia aliviar as dificuldades da zona do euro, mas apenas momentaneamente.

"A curto prazo, a China contenta-se em transmitir a imagem do príncipe que aparece para socorrer a Europa, e isso pode sustentar um pouco o mercado", declarou Mark Williams, do gabinete de consultoria Capital Economics.

"Mas os problemas europeus são estruturais, não algo que China possa necessariamente resolver, embora consiga tampar buracos", acrescentou.

A declaração do vice-primeiro-ministro chinês, "apesar de ajudar a gerar confiança, seguramente não modificará radicalmente os problemas fundamentais da Espanha", opinou por sua vez Alistair Thornton, do IHS Global Insight.

A China jamais revelou o montante de suas compras de obrigações de Estado europeias, uma informação que tampouco foi divulgada nem por Bruxelas nem pelos diferentes membros da UE (União Europeia).

A maioria das compras da dívida soberana teria sido feita, no entanto, dos países apontados como estáveis, especialmente Alemanha e França, segundo os especialistas.

Já os Estados Unidos, que publicam regularmente a lista de seus credores, apresentam a China em primeiro lugar, com mais de US$ 900 bilhões em bônus do Tesouro.

"Estabilizar a economia europeia e o euro é do maior interesse da China", declarou Tao Dong, economista do Credit Suisse First Boston em Hong Kong.

"Estrategicamente, também é importante para China reforçar sua relação com a Europa", acrescentou.

A China tenta transmitir imagem de uma potência responsável, mas busca investir no exterior para não inflar demasiado suas colossais reservas de divisas, que somavam US$ 2,64 trilhões no final de setembro, e alimentar uma inflação.

O banco central chinês é obrigado a injetar na economia para cada dólar recebido um montante equivalente em yuans.

As compras da dívida pública europeia, no entanto, não permitirão resolver os desequilíbrios no intercâmbio sino-europeu, advertiu Jonathan Holslag, do Instituto de Estudos da China contemporânea de Bruxelas.

"Isto porque, enquanto a Europa prosseguir encerrada num círculo vicioso de medo, inércia e declive econômico, suas relações com a China serão marcadas por frustração e desconfiança", concluiu.

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